Avatar Professora ©GS/ Second Life
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Queridos alunos,
Queridos Pais,
Lembro-me como se fosse hoje! O meu primeiro dia de professora, os meus primeiros alunos, as minhas primeiras aulas e, no entanto, já lá vão tantos anos!
Sempre quisera ser professora. Mas decidir lidar com jovens adolescente, nunca foi tarefa fácil. Tantas vezes habituados a pensar que a melhor defesa é não confiar, levava-me a tentar por todos os meios chegar até lá dentro, ao coração, aquele ponto sensível. Mas, saber onde ele estava ou se faltava muito para o encontrar, era sempre um enigma.
Na verdade, nesta incessante luta para, num curto espaço de tempo, conseguir operar algumas mudanças na forma como vêem o Mundo, acabamos por nos dar diariamente, aos poucos e sem limites. De coração!
Não cedemos nas regras do jogo, mas estamos lá, a cada instante, no momento certo, especialmente nos mais difíceis. E eles rapidamente captam isso!
Não! Não é fácil, porque nos leva a dizer-lhes não apenas as coisas boas, mas também aquelas que, mesmo magoando, é necessário serem ditas, para que cresçam bem e com equilíbrio.
Com o tempo aceitam tudo isso e estranham se não dissermos a verdade, por mais dura que seja, quando sabem que erraram. E, nesse dia, dão sentido à nossa vida e fazem com que todo o trabalho, todos os sacrifícios valham a pena. E valeram.
Afinal, investimos tanto de nós nestes filhos que não são nossos, que alguns dos seus deslizes mais simples nos podem magoar. Mas depois passa!
Contudo, é importante que percebam que tal como eles sofrem, quando os magoam, o mesmo acontece connosco. É necessário que saibam que também somos humanos.
Pode parecer estranho, mas têm sido muito duros, estes dois dias. No dia de ontem, no dia de hoje, continua a poisar uma nuvem cinza-chumbo no meu olhar, apesar do sol radioso que se faz sentir!
Os olhos brilham um pouco mais à leitura de cada mensagem, ou contacto online. Frente ao mar, esse mar que olhei durante anos da janela das salas de aula, procuro tranquilidade para as minhas emoções desordenadas.
Ontem, dia 4 de Maio de 2009, abracei os vossos filhos, um a um, e disse-lhes : "Parto, mas com o coração pequenino, apertado" - e coloquei um sorriso onde se escondiam lágrimas, por trás dos 'óculos' que sempre foram uma das minhas imagens. Como diziam alguns: "Dão-lhe estilo, professora!"
Não sei como agradecer todas as manifestações de imenso carinho, de respeito, de dor, e de tristeza por entre sorrisos e lágrimas que tremulavam nos olhos de todos nós.
Vieram-me à lembrança outras escolas, poucas, por onde passei (gostei sempre de criar raízes para poder apreciar a evolução dos alunos) e em todas elas, outras manifestações de profunda ternura de outros alunos.
Sem querer, a cena final do filme "O Clube dos Poetas Mortos" perpassou... um professor com quem me identifiquei desde logo, pela maneira aberta, descomplexada e universalista de olhar o estudo da literatura e de a ensinar pelo coração, que é a maneira mais certa, ligando-a à vida, à nossa interioridade, com aquele rasgo de rebeldia que é necessário para se sair da norma-padrão, da vulgar e fria perspectiva de dar a matéria, sem alma!
Para ensinar, é preciso estar lá com o coração e pelo coração! Sempre estive na docência pelo coração.
Quando pensei terminar a minha carreira de docente, não a de investigadora e curiosa das coisas que se prendem com currículos e tecnologias, começava o ano lectivo de 2005-2006. O ano de inicar novo ciclo de estudos com novos alunos na escola.
Tinham acabado de chegar à escola os vossos filhos, afoitos, vivos, buliçosos... e tão palradores.
Foi-me distribuido um horário com uma carga lectiva extremamente pesada para esta fase da minha carreira docente - injustiças de um director pouco isento - três turmas de 28 alunos, uma área curricular - Língua Portuguesa - muito trabalhosa, intensa. Respirei fundo e pensei: "É agora!"
Mas de aula para aula, de turma para turma, fui-me afeiçoando, até que decidi terminar ao mesmo tempo que eles. E aí um novo ciclo se abriria para todos nós.
E senti-me pronta a aceitar mais um desafio!
Fui induzindo-os a ter uma grau de exigência para com eles próprios, a ser curiosos, no sentido da investigação séria, do questionar, do querer saber mais, sempre mais!
Venci barreiras, muitas... ultrapassei limites de horas de trabalho, retirei muito tempo ao descanso, à vida em família, mas queria estar presente o mais possível! E estive.
Desde 1999 que estudava o método de incluir as tecnologias nos currículos de Língua Portuguesa e de Francês Língua Estrangeira, integrando também noções básicas de educação para a Cidadania.
Vêm daí, as primeiras iniciativas para motivar alunos para os recursos educativos integrados nos currículos. Não esqueço a célebre 'geração Harry Potter'! Impetuosos. Criativos. Foi o arranque!
Alunos tão criativos! Empreendedores. E com eles chegaram os primeiros telemóveis. Prontos a aceitar as minhas primeiras incursões de Educação e Tecnologias.
Kidzlearn Lugares & Aprendizagens
Projecto e-learning Linguas & Tecnologias
http://www.porto.ucp.pt/projectos/kidzlearn/*
Daí nasceu o projecto online Kidzlearn Lugares & Aprendizagens*. Eu, eles, aprendizes das coisas digitais, meios de ensino e aprendizagem, recursos vastos, excitantes, como complemento da sala de aula!
E vieram os muitos projectos online europeus - fomos conhecidos na Europa - e projectos digitais a nível nacional, também. Foram a primeira geração de nativos digitais.
Outras gerações se seguiram, a "geração internet" que motivar e enriqueceram este blogue, BlogdosCaloiros. Uma das primeiras experiências de blogs em Educação. E um segundo blog, na área das línguas, mas de Francês lingua estrangeira, BlogSkidz.
Outra geração, bem mais autónoma, muito dinâmica, empreendedora, e competitiva.
E agora a "geração milénio"! A vossa! Cada vez mais viva, empenhada, curiosa, crítica, atenta.
Acompanhei-vos com entusiasmo, introduzi os recursos digitais nos currículos, abri-vos novas perspectivas. Juntos desvendámos interessantes caminhos no ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa.
imagem: via Google Images
Até que prometi a mim mesma ficar convosco até ao final do ano lectivo 2006, final de ciclo com a Prova de Aferição.
Por isso, foi com muita tristeza que abandonei ontem a escola. A escassos dias... Senti-me traída nos sacrifícios que fizera nestes dois anos. A tão poucos dias...
Fui informada pelo director da escola que não podia ficar até à Prova de Aferição. Mal me deu tempo para me despedir de vós, Foi preciso impor minha vontade de vos comunicar, de me despedir de todos vós.
Ser-me-ia impossível partir de outro modo! Continuo a pensar que pedagogicamente o que estaria certo era que me tivesse sido permitido acompanhar-vos até lá, já que apenas faltam 10 dias!
Dirigi-me para cada uma das salas de aula, ao vosso encontro, Dei a minha última lição. E no final, despedi-me dos meus 87 alunos, turmas F/G/H do 6º ano. Com muito carinho, muita emoção.
A cada um dirigi uma palavra de incentivo para um futuro que está bem próximo. Todos eles sabem que estarei deste lado, que continuarei a apoiá-los até ao final deste ano. E aqui continuarei para os ciclos de estudos seguintes, novas etapas.
Deste lado, eu permanecerei...
Os Pais podem estar tranquilos. Os conteúdos programáticos previstos para final de ciclo foram todos leccionados. Há algum tempo. Estávamos agora nas revisões e preparação formativa para a Prova de Aferição.
Nesses espaços pródigos de luminosidades coruscantes, frente ao mar, sondei as imaginações misteriosas destes jovens aprendentes, das turmas F-G-H e trabalhei com eles afincadamente.
Aí mesclamos prodigamente emoções infindáveis! Tive o raro privilégio de pressentir e apoiar sensibilidades raras, talentos delicados.
Acreditem, os vossos fillhos são prodiosos! Ficarão sempre em meu coração porque 'pelo coração' fiquei com eles, lhes transmiti saberes, valores, e muito afecto entre um grau de exigência elevado que considero imprescindível para a vida.
Nem todos serão doutores, mas a todos incentivei para tirar um curso, superior ou profissional. O importante é que sintam realizados, e enfrentem o mundo melhor preparados. Um mundo que eles vão querer mudar!
Foi muito bom trabalhar convosco, queridos alunos, numa partilha de aprendizagens profundamente enriquecedora. Até os mais rebeldes me vão deixar saudades!
Um xi-coração bem ternurento e muito sentido. Até logo! Até sempre!
Um agradecimento aos Pais que me apoiaram e caminharam do mesmo lado, comigo, na tarefa difícil de ajudar os vossos filhos a crescer saudáveis e preparados para exigir o melhor para as suas vidas!
A Professora GSouto
05.05.2009
*Descontinuado