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Avançámos alguns passos, em direcção a uma grande vidraça por detrás da qual, em vários andares, se atarefavam outras palavras. Pela maneira como se agitavam constantemente, e em todos os sentidos, dir-se-ia tratar-se de formigas.
- E destas, lembras-te?
O meu ar desolado forneceu-lhe a resposta.
- São os verbos. Olha para eles, maníacos do trabalho. Nunca descansam.
Falava verdade. Estas formigas, estes verbos, como lhes chamara, ajustavam, esculpiam, roíam, reparavam; forravam, poliam, limavam, aparafusavam, serravam; bebiam, cosiam, mungiam, escovavam, multiplicavam-se. No meio de uma cacofonia incrível. Dir-se-ia uma oficina de loucos, todos se afadigavam freneticamente sem se ocupar dos outros.
- Um verbo não é capaz de se manter quieto — explicou-me a girafa —, está na sua natureza. Trabalha vinte e quatro horas por dia. Já viste aqueles dois, ali adiante, a correr por todo o lado?
Levei algum tempo a distingui-los, naquela terrível desordem. Subitamente, avistei-os, «ser» e «ter». Oh, como eram comovedores! Andavam de verbo em verbo, oferecendo os seus serviços: «Não precisam de ajuda? De um pequeno auxílio?»
- Viste como prestáveis? É por isso que se chamam auxiliares, do latim auxilium, socorro. E, agora, chegou a tua vez. Vais construir a tua primeira frase.
E o homem-girafa estendeu-me uma rede de caçar borboletas.
- Começa pelo mais simples. Vai ali adiante, à gaiola, e escolhe dois nomes. Depois, escolherás o verbo no formigueiro. Anda, não tenhas medo, eles conhecem-te, gostam muito de ti, não te morderão.
Achei-lhe graça, ao director-girafa, gostaria de o ter visto no meu lugar. Ainda mal empurrara a porta e já me sentia assaltada, sufocada, cega, os nomes lutavam, entravam-me pelos olhos, pelas narinas, pelos ouvidos, espirrei, tossi, quase morri, todos queriam ser escolhidos, realmente deviam entediar-se naquela prisão. Prestes a desmaiar, agarrei dois pelas asas, ao acaso, «flor» e «diplodoco», e voltei a fechar a porta, pálida, trémula, meio-morta.
A girafa nem me deu tempo para respirar.
- Anda, agora tens de pescar um verbo.
Prevenida pela minha experiência anterior, limitei-me a meter a mão no formigueiro. Num segundo, a minha mão ficou coberta, foi mordida, lambida, arranhada, mas também acariciada, besuntada, esfregada, maquilhada. As formigas-verbos estavam felicíssimas. Desvanecida com tantas atenções, deixei-as trabalhar por uns segundos e, depois, retirei-me com uma delas, agarrada ao acaso, «rilhar».
Erik Orsnna, A gramática é uma canção doce (excerto)
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Ficha digital formativa:
A. Funcionamento da Língua
A propósito deste excerto de um livro encantador La grammaire est une chanson douce do francês Erik Orsnna, vamos então aproveitar para revisar para o próximo teste escrito.
1. Este texto fala de duas classes de palavras, talvez as mais importantes da Morfologia. Identidica-as.
1.1. Uma das classes é comparada "... a um formigueiro...". Qual?
2. Retira do texto:
2.1. Duas formas verbais de cada uma das conjugações regulares.
3. Refere os verbos auxliares aqui presentes.
3.1. Constrói frases para cada um deles e identifica os modos e tempos empregues.
4. Agora, selecciona três nomes presentes no excerto e constrói frases em que incluas, para além dos elementos essenciais, dois ou três elementos móveis, à tua escolha.
B. Tipologia de texto
E vem a propósito falar do texto Narrativo...
1. Identifica as personagens presentes neste excerto.
2. Classifica o narraador. Justifica com algumas palavras (marcas gramaticais) retiradas do texto.
C. Expressão escrita :
1. É a tua vez de inventar uma curta história a propósito de gramática. Liberta a tua criatividades! E respeitas as regras do discurso.
Não ultrapasses 15 linhas.
Não te esqueças de imprimir esta ficha digital para elaborares as actividades que te propus. Depois de concluir esta curta ficha formativa digital, guarda-a no teu portefólio de Língua Portuguesa para correcção na próxima aula.
Podes escrever como comentário, alguma dúvida que te surja. Eu estarei aqui para apoiar-te.
Bom trabalho !
A Professora GSouto
03.11.2008
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